Como Contar a uma Criança que uma Pessoa Faleceu com Sensibilidade e Apoio
Como contar a uma criança que uma pessoa querida morreu? Imagine que, em uma manhã ensolarada, Lara, uma garotinha de apenas 5 anos, brincava feliz com seu cachorro no jardim, como fazia sempre que o dia amanhecia claro e cheio de possibilidades.
Sua mãe estava dentro de casa, preparando o café da manhã, enquanto o rádio tocava uma música suave ao fundo. De repente, a campainha tocou e sua mãe atendeu a um telefonema que mudaria tudo. A notícia foi um golpe: seu pai, que estava doente há algum tempo, havia falecido. Sem saber como dizer isso à filha, ela entrou no jardim e, com uma dor silenciosa no peito, se sentou ao lado de Lara.
“Filha, preciso te contar uma coisa”, disse a mãe, com a voz embargada. Lara olhou para ela, sem entender, e perguntou com um sorriso ingênuo: “O que aconteceu, mamãe?”.
A mãe, com o coração apertado, respondeu: “A vovô morreu, Lara. Ela não vai mais voltar para cá.” A pequena Lara, com seus olhos brilhando de curiosidade, ficou em silêncio por um momento. Depois, com a inocência de uma criança, perguntou: “Ela vai morar com as estrelas?”
Esse momento, aparentemente simples, é na verdade um dos maiores desafios que qualquer adulto pode enfrentar: como contar a uma criança que alguém que ela ama morreu?
A morte é um tema complexo, e o adulto deve se questionar devo levar a criança para participar de um funeral? E uma momento tão doloroso e muitas vezes esquecido, mas é uma parte inevitável da vida.
Como Explicar a Morte para uma Criança de 3 Anos? No entanto, a maneira como os adultos lidam com essa situação pode fazer toda a diferença no processo de luto infantil, ajudando-a a lidar melhor com a perda e as emoções complexas que surgem nesse momento.
A Realidade da Morte no Mundo Infantil
Como a criança vivencia o luto? Em nossa sociedade, é comum tentar proteger as crianças da dureza da vida, especialmente quando o assunto é a morte. Mas a verdade é que, assim como os adultos, as crianças também enfrentam perdas.
O que pode ser mais doloroso, no entanto, não é o fato de falar sobre a morte, mas a morte em si. Quando um ente querido se vai, o impacto emocional é profundo, e, no caso das crianças, elas não sabem como processar essa ausência.
Elas ainda estão desenvolvendo sua visão de mundo e, portanto, precisam de adultos que sejam capazes de guiá-las através dessa experiência com empatia, sensibilidade e apoio.
Preparando-se para Falar sobre a Morte
De fato, mesmo em sua infância precoce, a criança pode ter experiências de luto infantil ao perder um avô, um amigo, um animal de estimação ou até mesmo os pais.
E, ao passar por essa experiência, ela não só sente a dor da ausência, mas também enfrenta o desafio de entender o que é a morte, como ela afeta sua vida e como lidar com as emoções que surgem.
É, portanto, uma das primeiras e mais difíceis lições que a criança precisará aprender: a lidar com a perda, a saudade e o luto.
1. Escolha um Momento Calmo para a Conversa
O primeiro passo ao abordar uma criança sobre a morte de alguém querido é escolher um momento tranquilo, em que você possa dedicar a atenção necessária à criança e à conversa.
O ambiente deve ser acolhedor, seguro, onde ela se sinta confortável para expressar suas dúvidas e sentimentos. Isso permitirá que ela sinta o apoio necessário durante um período de confusão emocional.
Evite dar a notícia de forma abrupta ou em momentos de estresse. Isso pode gerar ainda mais angústia e confusão. Escolher um espaço tranquilo e dar a atenção devida ao momento de luto infantil é fundamental para que a criança possa internalizar a notícia de forma mais tranquila.
2. Seja Claro e Sincero, mas Sensível
Muitas vezes, os adultos têm receio de falar sobre a morte de forma direta, por medo de causar mais sofrimento ou de sobrecarregar a criança. No entanto, é importante ser honesto. Usar eufemismos como “ele foi embora” ou “foi viajar” pode gerar confusão. A criança, em sua percepção de mundo, pode achar que a pessoa voltará em algum momento, o que torna a situação ainda mais angustiante quando ela percebe que não é assim.
O ideal é usar palavras simples e claras, mas sempre com sensibilidade. Por exemplo, você pode dizer: “A vovó morreu. Isso significa que ela não vai voltar. Ela descansou e agora está em um lugar onde não sente mais dor”.
A explicação deve ser adequada à faixa etária da criança. Uma criança mais nova pode não compreender todas as implicações da morte, mas a honestidade é sempre necessária. Ela precisa entender que a morte é um processo irreversível.
3. Esteja Preparado para Perguntas Difíceis
As perguntas das crianças sobre a morte podem ser difíceis de responder, especialmente porque muitas delas envolvem conceitos abstratos, como o que acontece após a morte ou o que é a morte de fato. Embora não existam respostas definitivas sobre esses assuntos, o mais importante é que você esteja preparado para ouvir e para dar respostas que respeitem a curiosidade e os sentimentos da criança.
Caso você não tenha uma resposta pronta, não há problema em dizer “Eu não sei”. Dizer que você também tem dúvidas ou que não possui todas as respostas ajuda a mostrar à criança que é normal não saber tudo. Isso pode abrir espaço para mais conversas e para o compartilhamento de sentimentos, ao invés de simplesmente tentar fechar o assunto.
Por exemplo, se a criança perguntar “Onde ela está agora?”, você pode explicar que existem várias crenças sobre a vida após a morte, mas que a principal certeza é que a pessoa querida será sempre lembrada com amor. Isso pode ser acompanhado de uma explicação sobre o que significa lembrar alguém e como a memória de uma pessoa permanece viva em nosso coração.
4. Falar Sobre Sentimentos de Forma Aberta
Falar sobre a morte também significa permitir que a criança explore seus próprios sentimentos de luto. As crianças, assim como os adultos, precisam de um espaço para expressar suas emoções. Por isso, é importante incentivar a criança a falar sobre o que sente, seja tristeza, medo, raiva ou até mesmo confusão.
Por exemplo, você pode perguntar: “Como você está se sentindo agora?” ou “O que você acha da vovó ter ido embora?”. Não há respostas certas ou erradas. A criança pode dizer que está triste, mas também pode mostrar que está mais preocupada com o que aconteceu com o ente querido ou se terá que enfrentar a morte de outras pessoas próximas. O importante é garantir que ela tenha a liberdade de expressar seus sentimentos sem medo de julgamento.
5. Lidar com o Medo da Morte
Além da tristeza, a criança pode também sentir medo, não só pela morte do ente querido, mas pelo fato de perceber que todos, eventualmente, terão que passar por isso. Esse medo é natural, mas deve ser abordado com carinho e paciência. Reassegure à criança que a morte é algo que faz parte da vida, e que, por enquanto, ela está protegida e rodeada de pessoas que a amam e cuidarão dela.
6. Usando Atividades Criativas para Ajudar no Luto
Uma das maneiras mais eficazes de ajudar a criança a lidar com a perda é por meio de atividades criativas. Elas podem desenhar, pintar ou até escrever cartas para o ente querido que partiu, como uma forma de processar a dor. Fazer isso pode ajudar a criança a externalizar seus sentimentos de maneira simbólica e tranquila.
Criar um ritual de despedida, como acender uma vela em memória da pessoa falecida ou plantar uma árvore em sua homenagem, também pode ser um passo importante no processo de luto infantil. Esses gestos ajudam a criança a entender que a vida continua, mas que a memória e o amor pela pessoa querida permanecem vivos.
7. Reforçar o Sentimento de Continuidade e Amor
Embora a morte traga uma sensação de fim, é importante que a criança compreenda que a memória do ente querido não se apaga. O amor por essa pessoa permanece vivo, e é isso que deve ser celebrado. Ensinar a criança a lembrar dos bons momentos, a rir das recordações e a celebrar a vida da pessoa falecida pode ajudá-la a ver a morte de uma forma mais reconfortante.
Em vez de temer o fim, a criança pode aprender a valorizar a vida e a importância de estar com as pessoas que amamos. A morte não precisa ser um tabu, mas uma parte da experiência humana que todos, mais cedo ou mais tarde, terão que lidar.
Onde Procurar Apoio e Orientação?
Quando a criança em luto precisa de ajuda psicológica? A perda de um ente querido é um evento que mexe com todos, principalmente com as crianças. Por isso, se você sentir que a criança precisa de ajuda profissional para lidar com suas emoções ou se você mesmo precisar de orientação, existem vários recursos disponíveis para apoio emocional:
- Crescer.com.br: Este site brasileiro oferece uma série de artigos e recursos voltados para a psicologia infantil, com foco na forma como as crianças lidam com a perda e o luto. Lá, você encontrará artigos que ajudam os pais e cuidadores a entender melhor o comportamento infantil durante o luto infantil e como dar o suporte necessário.
- Psicologiaviva.com.br: Uma plataforma brasileira que conecta pessoas com psicólogos especializados em luto e questões emocionais. Se você sentir que a criança precisa de uma ajuda mais profunda para lidar com a dor da perda, esse site pode ser um bom ponto de partida para encontrar profissionais qualificados.
- Bereavement support groups (Grupos de apoio ao luto): Caso você esteja buscando ajuda em inglês ou se a situação exigir apoio emocional mais imediato, os grupos de apoio ao luto (bereavement support groups) são uma excelente alternativa. Eles oferecem um espaço seguro para compartilhar sentimentos e encontrar apoio de outras pessoas que estão passando por experiências semelhantes.
Conclusão
A morte é uma realidade difícil de lidar, especialmente para as crianças. Quando um ente querido falece, as perguntas, o medo e a dor são sentimentos que precisam ser reconhecidos e compreendidos.
Falar sobre a morte com uma criança exige sensibilidade, honestidade e, acima de tudo, paciência. As palavras que você escolher e o ambiente de apoio que você criar serão fundamentais para ajudá-la a processar a perda de forma saudável.
Lembre-se de que o mais importante não é ter todas as respostas, mas estar presente para a criança, ouvindo, acolhendo suas perguntas e sentimentos, e permitindo-lhe explorar o luto de forma segura e amorosa. Assim, a criança poderá crescer emocionalmente, aprendendo a lidar com a perda, a saudade e o amor que continua, mesmo após a partida de um ente querido.